"Clube da Esquina 2" : um movimento por detrás da canção.

Nossa análise de hoje é sobre essa linda canção “Clube da esquina 2”, que traz uma melodia incrível, que te abraça ao ouvi-la, como se estivéssemos morando dentro dela. Uma sonorização que nos acolhe, como a maioria das músicas de origem mineira.  

Foi composta pelos grandes artistas: Lô Borges e Milton Nascimento. E este nome dá-se pelo fato de já existir uma música com o mesmo título e aí resolveram fazer então uma segunda parte somente no instrumental, entrando assim no álbum do famoso movimento mineiro também chamado "Clube da Esquina". 

O movimento  surgiu em Minas Gerais, no cruzamento das ruas Divinópolis com Paraisópolis, há mais ou menos 60 anos. Não havia um clube em um espaço físico como muitas pessoas achavam, era somente uma reunião que acontecia entre jovens amigos músicos, em uma esquina do bairro de Santa Tereza em Belo Horizonte.  

A reunião musical entre Milton Nascimento e os irmãos Lô e Marcio Borges começou quando ainda eram crianças. Gostavam de tocar juntos, compor músicas e conforme o tempo foi passando, esse clube só foi aumentando. De repente, naquela esquina onde era o ponto de encontro deles, poderíamos nos deparar com o pianista Wagner Tiso, que já tocava junto com Milton no conjunto W`Boys, e os músicos Fernando Brant, Nivaldo Ornelas, Toninho Horta e Paulo Braga, formando no entanto, o célebre "Clube da Esquina". 

Segundo o letrista Márcio, muitas pessoas vinham de diversos lugares, até mesmo fora do Brasil para conhecer o movimento, alguns procurando encontrar um clube de fato. Ao perceberem que não havia um local, ou iam embora decepcionados, ou ficavam ainda mais entusiasmados, com vontade de conhecer. Talvez a segunda opção fosse a que mais acontecia, pois o Clube da Esquina, já na década de 70, se transformou em um álbum duplo que reuniu diversos músicos da vanguarda de Minas Gerais. Foi gravado e produzido em Piratininga, bairro de Niterói no Rio de Janeiro. Também foi convidado a participar o cantor mineiro Beto Guedes.  

Ao lançarem o Clube da esquina 2, em 1978, os cantores Flavio Venturini e Murilo Antunes tornaram-se os novos integrantes do movimento. 

Capa do álbum Clube da esquina 2



Segundo o site do Terra, os dois meninos que aparecem na icônica capa do primeiro álbum, são Antônio Rosa Carlos de Oliveira, o Cacau, e José Antônio Rimes, o Tonho. Eles foram fotografados por Cafi, enquanto este passeava com o seu fusca por uma estrada de terra em Nova Friburgo, município do Rio de Janeiro.  


Outra super curiosidade, é que o nome “clube” foi dado, após escutarem os meninos ricos que moravam no mesmo bairro dizerem que iam a um clube particular. E aí, nesse instante, o jovem Milton olha para os amigos e diz: “O nosso clube é aqui”. 

Retornando então para a história da música Clube da esquina 2...

Eis que em um belo dia, a cantora Nana Caymmi, que gostou demais do instrumental, ficou querendo muito gravar “Clube da esquina 2”. A única questão era que não havia letra, sendo impossível de ser cantada. Diante desse problema, Nana pediu para o Marcio Borges, grande letrista mineiro, escrever a letra dessa canção. O compositor era irmão de Lô e grande amigo de Milton, com isso explicou a ela que os dois não queriam que a música fosse letrada, pois alegavam que a obra já mostrava para que veio somente com a instrumentalização e não queriam limitá-la a uma composição escrita. 

Mas Nana não aceitou tal argumentação e sugeriu que Márcio desobedecesse aos parceiros e fizesse uma letra mesmo assim, que mostrasse a eles, e em seguida, após a aceitação de todos os envolvidos, desse a ela para cantar. Sendo convencido pela cantora, Marcio Borges resolveu aceitar o grande desafio por estar em um momento de forte engajamento político e foi mais além, passando nesse momento, a se inserir como um também compositor do movimento Clube da Esquina.  

O autor descreveu de forma poética e harmoniosa, por meio de metáforas, como era a sua visão a respeito da ditadura militar no Brasil e de que maneira ele, juntamente com esse incrível movimento mineiro, conseguia lidar com o momento tão difícil que o país estava vivendo. Com a letra finalizada, segundo Marcio, não teve como ser negada pelos outros dois compositores, que acharam sensacional. A canção então foi gravada por Nana Caymmi, tornando-se assim um grande sucesso. 


Vamos então a letra, galera!


 Porque se chamava moço

Também se chamava estrada

Viagem de ventania

O momento em que ele era visto como um jovem moço, mas também poderia ser uma estrada, sempre caminhando em frente. Muitas vezes era preciso andar mais depressa, rápido como uma ventania.

Tempos turbulentos eram aqueles em que os jovens tinham que fugir, pois não podiam expressar suas discordâncias.


Nem lembra se olhou pra trás

Ao primeiro passo, aço, aço, aço, aço

Fugir tão depressa que ele nem lembra se chegou a olhar para trás. Era preciso correr após o primeiro passo, pois o aço, em forma de armas, estava vindo logo atrás. 


Porque se chamava homem

Também se chamavam sonhos

E sonhos não envelhecem

Nesse instante, ele se vê como um homem que possui muitos sonhos e que jamais irão se tornar velhos ou esquecidos. Apesar de tudo, era preciso continuar sonhando e acreditando que "o novo sempre vem". 


Em meio a tantos gases lacrimogênios

Ficam calmos, calmos, calmos

Apesar de serem fortemente atingidos pelos gases lacrimogênios dos militares, eles tentavam se manter calmos para conseguirem vencer e chegarem até o fim. 



E lá se vai mais um dia

E os dias iam se passando... um após o outro

E basta contar compasso

E basta contar consigo

Que a chama não tem pavio

Tudo o que lhe restava, era contar consigo, continuar o caminho.

A chama que o Clube da Esquina acendeu não tinha pavio, pois com o pavio o fogo se apaga e o deles não se apagaria nunca. É uma luz que permanecerá para sempre acesa. 

Já o fogo que vinha do outro lado, esse, não duraria por muito tempo. 


De tudo se faz canção e o coração

Na curva de um rio, rio

O que lhes restavam eram fazer canções. E a música que vinha do coração desses meninos, era feita  naquela esquina, que podia ser comparada a curva de um rio, por correr e se espalhar de forma tão rápida. 



E o rio de asfalto e gente

Entorna pelas ladeiras

Entope o meio-fio

Esquina mais de um milhão

Quero ver então a gente, gente, gente

E nessa esquina, que não tinha água mas sim o asfalto, atraía multidões de todos os cantos do mundo. Entornava as ladeiras de Belo Horizonte e entupia o meio fio das calçadas. 

Eram milhões na esquina clamando por um mundo mais justo e melhor para todos!!!



A versão com Nana Caymmi:


Com Lô Borges e Milton Nascimento:



E com Flávio Venturini

Já tinham ouvido essa música? Conta aqui pra gente de onde a conhecia!

Até a próxima!

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Texto: Priscilla Dutra

Edição: Nanda Catarcione

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