A simplicidade envolvente da mística "Tocando em frente" de Almir Sater e Renato Teixeira.

Nesta primeira quarta-feira do mês de setembro, nós iremos apreciar esta canção que traz consigo uma dimensão espiritual capaz de nos fazer refletir melhor sobre o significado da nossa existência, ela se chama “Tocando em frente”. Foi composta por dois grandes nomes da música caipira brasileira: Almir Sater e Renato Teixeira.

Essa música também possui uma história incrível sobre o seu “nascimento”. O compositor Almir Sater contou
no programa “Viola, minha viola”, da saudosa Inezita Barroso, que “Tocando em frente” foi um presente divino que ele e Renato receberam, para que pudessem passar uma mensagem bonita e otimista ao mundo. Segundo ele, a composição dessa canção, foi uma inspiração espiritual, por ter sido feita em um espaço curto de tempo. O cancioneiro acredita que de fato ela tenha sido psicografada pois não há talento para se fazer uma música tão rápido, em questão de minutos.

Os dois se reuniram para compor devido a um pedido por uma “moda de viola” para entrar na trilha sonora da

novela Pantanal e, a princípio, Renato Teixeira que iria gravá-la. Porém, enquanto Almir Sater estava em sua casa finalizando a melodia, recebe a ligação de uma das maiores intérpretes do Brasil: Maria Betânia. A cantora estava atrás de uma música para gravar e perguntou ao compositor se ele teria alguma. A resposta que recebeu ao telefone foi que infelizmente não tinha e que naquele momento estava terminando uma obra que seria gravada por Renato. Inconformada, Betânia pede pra escutá-la e imediatamente diz que a música seria para ela e Almir Sater, por fim, não teve como discordar, pois o seu amigo e parceiro de composição o lembrou que Maria Betânia é a rainha e que era pra ele entregar a ela a canção sem discutir, e assim foi feito.

No ano de 1990, a música é lançada e interpretada de forma magnífica na voz dessa grande e ilustre cantora baiana, e até hoje nos emociona devido a atemporalidade de sua letra. É como se, de modo inexplicável, ela sempre tivesse existido.

Almir Sater nos fala também que ele só foi prestar a atenção e entender a intensidade daquela música, quando os seus familiares disseram que “Tocando em frente” era a música mais incrível que ele já tinha composto em toda a sua vida. De acordo com o cantor, tudo o que vem fácil demais a gente costuma não dar muito valor, por conta disso é que ele não tinha tido ainda essa percepção. Esse grande cancioneiro da música caipira nacional, termina a fala dizendo da importância que tem na sua vida a parceria com Renato Teixeira, e que a energia dos dois juntos é muito forte. Com isso, eles agradecem por serem tão iluminados ao ponto de saberem esperar o momento certo para compor.


Vamos então à letra:


Ando devagar             

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

As experiências que teve ao longo de sua vida, o fez compreender que não há necessidade de ter pressa. As coisas só acontecem quando tem que acontecer e a ansiedade só atrapalha de seguirmos o nosso caminho. Ele também revela que por inúmeras vezes durante sua trajetória, derramou lágrimas, mas que agora ele se deu conta de que os motivos para sorrir são maiores do que os motivos para chorar.


Hoje me sinto mais forte

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei

Ou nada sei

“Só sei que nada sei”, já dizia o filósofo Sócrates.

Todos os obstáculos que encontrou em seu caminho o tornaram um ser mais forte e, até mesmo, mais feliz. As dificuldades o fizeram entender que nós, seres humanos, não conseguimos ter a compreensão de tudo e essa clareza de pensamento nos faz sentir bem mais leves.

Cada momento que vivemos é um novo aprendizado. A única certeza que temos é que somos incapazes de compreender a tamanha complexidade que é o sentido da nossa existência.


Conhecer as manhas

E as manhãs

O sabor das massas

E das maçãs

É importante que a gente possa sentir prazer nas coisas mais simples da vida. Vamos nos proporcionar esse prazer de conhecer.  Conhecer algo que está ali ao nosso alcance, observar o que está tão perto de nós, no nosso agora. 

Uma das coisas interessantes na construção dessa letra, e que está marcante nesta estrofe, é o uso da aliteração, uma figura de linguagem dada à repetição de consoantes com o mesmo som, ajudando a dar ritmo e uma sonoridade gostosa de ouvir na música. Os autores fazem essa brincadeira com as palavras de uma forma envolvente, enfática e muito poética.


É preciso amor

Pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir

É preciso a chuva para florir

Perceber a importância de cada ação nossa e as suas consequências. O que o mundo espera de nós? Não podemos exigir que as coisas aconteçam sem que façamos algo para isso. E tudo o que acontece na natureza, tem um motivo para acontecer, nada é por acaso.

 


Penso que cumprir a vida

Seja simplesmente

Compreender a marcha

E ir tocando em frente

Vamos continuar firmes seguindo o nosso caminho. Compreender também que podemos errar, mas que a vida nos dá sempre uma nova chance, um novo recomeço.

 

Como um velho boiadeiro

Levando a boiada

Eu vou tocando os dias

Pela longa estrada, eu vou

Estrada eu sou

Ir sempre em frente, sem olhar para trás, isso é entender a vida. Aprender com os erros. Somos uma estrada e não podemos parar no meio do caminho. Há muita coisa esperando por nós, tem muito para ser vivido. Pedras no caminho não podem ser motivos para  deixarmos de seguir.   


Todo mundo ama um dia

Todo mundo chora

Um dia a gente chega

E no outro vai embora

A nossa vida é como a chegada e a partida de um trem na estação. Tudo passa! Um dia a gente chega e no outro estamos indo embora. É a compreensão de que já cumprimos a nossa missão ali e que em um outro lugar, tem alguém ou algo a nossa espera. Há um propósito a ser cumprido e não adianta insistirmos para ficar, é preciso continuar a caminhada.

Todo mundo ama! O amor é divino, em todas as suas formas. Mas também iremos chorar, pois as lágrimas são necessárias para nos trazer alívio e tirar um peso, uma dor que muitas vezes se encontra dentro de nós.   

 

Cada um de nós compõe a sua história

Cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz

E ser feliz

A nossa vida é um livro com folhas em branco, para que a cada dia a gente possa escrever um capítulo da nossa trajetória. Sejamos protagonistas da nossa própria história e a felicidade que desejamos só depende de nós.

Todos são capazes! Nunca desistam de si mesmos!


Além da incrível Maria Betânia, outros grandes artistas também gravaram essa canção de uma forma belíssima. Separamos aqui alguns vídeos dessas versões:

Maria Betânia e sua forma única de declamar a música com tanta expressividade:


Sergio Reis com o arranjo sertanejo raiz e sua doce voz:

 Daniel destacando a intensidade dessa obra com a potência de sua voz:


AnaVitória e a orquestração grave e emocionante que delinearam na música:


E, por fim, Almir Sater e Renato Teixeira com a forma mais original dessa obra analisada hoje!


Além dessas versões, não podemos deixar de lado uma das artes mais fofas da letra dessa música, feita pelo designer gráfico, Andrei Menegaly:


Faltou alguma versão dessa linda obra nesse texto de hoje? Qual delas é a sua preferida?
Espero que tenham gostado! 

Até a próxima! 
Segue a gente no Instagram: @nandacatarcione e @priscilladutrah
E no Twitter também: @nandacatarcion e @priscilladutrah

Texto: Priscilla Dutra
Edição: Nanda Catarcione






Comentários

  1. Minha versão preferida é com as AnaVitória! <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente essa versão é linda demais mesmo. Eu gosto muito da versão com a Maria Betânia ❤️

      Excluir
  2. Uma das músicas mais bonitas que ouvi.
    Sobre as diversas versões eu acho a original insuperável.
    Uma outra musica que nos transporta para dentro da música, e que também gosto muito, é Trem do Pantanal

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A versão original é linda mesmo, Danilo! Essa Trem do Pantanal ainda não conheço, mas já irei procurar!! E já anotamos pra em uma Quarta colocarmos ela por aqui, fica de olho! :)

      Excluir
    2. A versão original realmente é maravilhosa Danilo! Trem do Pantanal é muito bacana também. Almir Sater é fera!

      Excluir
  3. Minha versão preferida é do vozerão vibrante de Betânia. Haja coração.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que delícia, Lu!!! A Pri tb ama a versão com ela! É linda mesmo!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas