"Cidadão": conflitos de classe e questões de fé.
Olá galera!
Hoje, o Quarta Musical traz para vocês a análise da música "Cidadão". Ela foi composta na década de 1970, por Lúcio Barbosa, como uma emocionante homenagem ao seu tio Ulisses. Sendo gravada pela primeira vez pelo cantor Zé Geraldo, mas ficou conhecida e tornou-se um sucesso, na voz inconfundível do grande artista, Zé Ramalho. Uma canção que nos transmite uma mensagem importante e bastante atual sobre a realidade de grande parte do povo brasileiro.
"Cidadão", traz uma narrativa feita por um homem que trabalha como pedreiro em construções civis. Este mesmo cidadão, que ajudou a construir diversos prédios e casas pela cidade, apenas pelo fato de ter uma condição de vida precária, é impedido de entrar ou frequentar grande parte das obras por ele construídas.
Uma canção forte e impactante, que aborda temas como: discriminação com os nortistas e nordestinos que migraram para as grandes cidades do sudeste, na intenção ilusória de conseguir uma vida melhor e mais digna para eles e seus familiares; problemas sociais referentes à moradia, educação, transporte e trabalho, e principalmente, o preconceito social por parte da classe privilegiada, que não enxerga os mais pobres, como cidadãos possuidores dos mesmos direitos civis e políticos que eles.
A letra de "Cidadão", é um alerta para nos fazer perceber o quanto a sociedade burguesa pode ser cruel ao manter um nítido distanciamento daqueles que não compartilham com ela dos mesmos privilégios, mas desempenham os mesmos deveres como cidadãos para com o Estado.
Vamos à letra:
Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
É possível perceber, já nessa primeira estrofe, que trata-se de um homem humilde, trabalhador e que pertence à classe pobre. Ele disse que trabalhou na construção de um edifício, mas tinha muitas dificuldades para conseguir chegar ao trabalho, devido a enorme distância do deslocamento de sua casa para o local da labuta. Fora as condições precárias dos transportes públicos.
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu 'tá aí admirado
Ou 'tá querendo roubar?
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu 'tá aí admirado
Ou 'tá querendo roubar?
Vemos, nessa estrofe, o grande preconceito existente por conta das diferenças entre as classes sociais. Um problema que ainda é recorrente em nossa sociedade. Um "cidadão", desconfia que o outro seja um assaltante, apenas por não aparentar ter condições financeiras. Ao chamar quem o discrimina de " cidadão", o protagonista quer nos chamar a atenção para o privilégio existente das classes mais altas no Brasil. Somente os mais favorecidos têm os seus direitos reconhecidos, podendo assim serem considerados "verdadeiros cidadãos brasileiros".
Meu domingo 'tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
O homem se sente extremamente triste e humilhado, de não poder sequer, admirar o que ajudou a construir. A sensação que ele tem é de não pertencer ao próprio país e acaba se entregando às bebidas, resultando em um problema bem presente nas classes menos favorecidas: o alcoolismo.
Muitos constroem grandes edifícios, mas não tem nem mesmo uma casa própria. Se sentem excluídos dessa realidade.
'Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Nessa estrofe, ele mostra que ajudou a construir um colégio, mas é um lugar onde a sua própria filha não pode estudar, por ele não ter condições de pagar as mensalidades, que são caras. Mais uma vez um "cidadão" aparece para lembrá-lo que ali também não é lugar pra ele e nem para os seus. Educação de qualidade é um fator que não faz parte da vida de milhões de brasileiros.
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
A ilusão que lhe foi vendida, de que a vida nas grandes cidades do sudeste seria muito melhor. Em seu estado de origem ele sofria com a seca, mas o pouco que conseguia produzir ele podia consumir, era dele. Sentimento forte de arrependimento.
'Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Aqui ele conta que também ajudou a construir uma igreja. A fé e religião são muito presentes na vida da população mais pobre.
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Zé Ramalho:
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!
Até a próxima!
Segue a gente no Instagram: @nandacatarcione e @priscilladutrah
E a nossa Fan Page no Facebook: @bmmblogue
Texto: Priscilla Dutra
Edição: Nanda Catarcione
Créditos das imagens do texto:
Imagem 1: Site Letras.com
Imagem 2: Página Books and Readings
Imagem 3: Site JC online
Imagem 4: Blog Fátima
Imagem 5: Blog Últimas Letras
Imagem 6: Blog Grandes Histórias
Imagem 7: Blog Retalhos
Comentários
Postar um comentário