Preciso dizer que te amo: uma música composta a seis mãos.

A música que iremos analisar hoje é “Preciso dizer que te amo”, composta pelo trio Dé, Bebel Gilberto e Cazuza. 

A história dessa canção é incrível e foi contada por Dé e Bebel no especial "Por trás da Canção" do Canal Bis em 2013.

Os três estavam em uma residência da família de Cazuza, chamada “Fazenda Inglesa”, em Petrópolis no ano de 1986 e, segundo recorda Bebel, a música surgiu de uma forma bem espontânea, em 40 minutos, definida por ela como o parto de um filho. Na época, a cantora, filha de João Gilberto e Miúcha, namorava Dé (baixista do Barão Vermelho) e nesse período Cazuza havia acabado de sair do Barão. Com isso, os dois ficaram mais unidos e começaram a compor mais vezes juntos. O baixista conta que Cazuza vinha “do nada” com uma letra, e ele se sentia na obrigação de criar uma melodia, porém nem sempre conseguia.

Nesse dia da Fazenda, os três amigos estavam reunidos em frente a uma lareira e enquanto Bebel e Caju (como era apelidado pelos amigos) tentavam terminar a letra, Dé ficou tentando tirar uma melodia. Porém, uma frase não estava encaixando muito bem, que era exatamente assim: “Preciso dizer que te amo, desentalar esse osso da minha garganta”, que o poeta cismou de colocar. Dé disse que estava tentando fazer um "blues" com essa parte, porém não estava conseguindo ajustar ao restante da letra, que era bem romântica.

Quando Cazuza foi questionado por isso, ele calmamente disse: “Cara, por que você não falou isso antes? Peraí.”, e logo em seguida, subiu as escadas para o quarto.. Cinco minutos depois ele desce com o refrão finalizado: “Preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem engano, eu preciso dizer que te amo, tanto.” Após acabarem a canção, Cazuza pegou um gravador e os três cantaram juntos. Segundo eles, foi a composição mais especial que já fizeram. 

A música “Preciso dizer que te amo” foi enfim gravada, porém não teve tanta repercussão assim. Somente em 1987, quando a cantora Marina lança a canção em seu álbum “Virgem” é que foi consagrada como um dos maiores sucessos musicais dos anos 80. Marina apenas fez uma modificação, retirando a última estrofe da música. 

Anos depois, Bebel Gilberto encontra a fita cassete em que foi gravada a versão original e lança no álbum de "RedHot + Rio", uma sociedade que foi criada para ajudar as vítimas da Aids. E a compositora canta pela primeira vez a música em um show na Apoteose em homenagem a Cazuza. 

A partir da versão de Marina, vários outros artistas gravaram a obra, entre eles Leo Jaime e Cassia Eller. É importante perceber que todos gravaram a canção em um tom bem intimista, mostrando um sujeito que sofre calado por um amor não correspondido de alguém que quer apenas a sua amizade. Ele não tem coragem de revelar os seus sentimentos e ainda sofre por ouvir os desabafos da pessoa amada, que “chora as dores de um outro amor”. O sujeito não tem coragem de se abrir e admitir os seus reais interesses pela amiga.

Somente na gravação do Leo Jaime que podemos perceber um sujeito mais corajoso, que opta por se revelar, por dizer o que sente. A gente consegue sentir na música que a pessoa não está falando para si mesma, mas sim diretamente para o outro. Leo Jaime canta o seu amor para quem deseja, parte para o confronto direto. Já os outros artistas cantam a música como se estivessem fazendo uma reflexão sobre os próprios sentimentos.

Vamos então à letra:

"Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar, segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo"
Aqui mostra a cumplicidade que existe entre eles e o quanto confiam um no outro. Contam os seus segredos, as novidades e até mesmo as coisas sem importância, que ocorrem no dia-a-dia deles. E o sujeito que ama, fica o tempo todo tentando encontrar a hora e o momento certo de abir o seu coração. Tem medo de estragar tudo e perder essa linda amizade. 

"É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que te amo, tanto"
Mas nesse momento ele admite pra si mesmo que precisa contar sobre o seu amor, mesmo correndo o risco de ser ou não retribuído e até mesmo perder a pessoa que ama. O que importa é ser sincero com os próprios sentimentos, fiel a si mesmo.

"E até o tempo passa arrastado
Só prá eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser seu amigo"
Quando estão juntos, o tempo é lento, demora a passar. Porém, a pessoa desabafa todo o seu amor e sofrimento por um outro alguém, chora em seus braços e deixa o sujeito completamente arrasado. 
E ele diz que não quer ser somente um amigo, não quer ficar só na amizade. Ele quer ser muito mais além disso. 

"É que eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que te amo, tanto"
E mais uma vez ele admite que precisa dizer o quanto ele ama essa pessoa, mesmo que essa atitude o faça perdê-la. Está disposto a sofrer as consequências desse amor tão profundo. 

"Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono,
Lembrando cada gesto teu qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira"
Essa é uma parte da música que só tem na versão original. Segundo a Lucinha Araújo, mãe do Cazuza, quem nunca levantou durante a madrugada após perder o sono e ficou abrindo e fechando a geladeira por estar nervoso? Ela diz: "Isso é a cara de todo mundo!" 
A noite é sempre o momento em que você mais pensa no ser que ama e fica remoendo na mente tudo o que aconteceu durante o dia pra tentar lembrar de algum detalhe, algum gesto do outro que faz demonstrar que o seu amor é correspondido. 

Pra finalizar, colocaremos aqui abaixo  as versões da música,  além da original e vocês me falam qual sentimento e percepção que tiveram. Quero muito saber! 
Pra mim a percepção que tenho é de coragem e lealdade, do sujeito para com a pessoa amada. Além disso, me vem um pouco do sentimento de tristeza...

Nossa querida e saudosa Cássia Eller:



Leo Jaime:



Marina Lima:



Dé, Bebel e Cazuza (versão original):


Até a próxima! 
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Texto: Priscilla Dutra
Edição: Nanda Catarcione

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