Elis Regina: O mito
Elis Regina de Carvalho Costa, apelidada carinhosamente por seus amigos de Pimentinha, devido ao seu temperamento forte e personalidade única, foi considerada a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Com uma voz marcante e de uma qualidade incomparável, Elis não somente cantava, ela sentia as músicas, expressava emoções em suas interpretações musicais e mantinha uma presença de palco incrível; o que tornou-se a sua principal marca, fazendo os críticos a considerarem como a maior intérprete do Brasil.
Elis Regina revolucionou a Música Popular Brasileira, dando voz a letras de grandes compositores. Outros, nem tão conhecidos na época, foram revelados por essa grande artista! Ela eternizou músicas que marcaram a história de nosso país e que atualmente ainda fazem parte da nossa vida, são letras que nos remetem tanto ao passado quanto ao presente.
Ao longo de toda a sua carreira, que deu início aos 11 anos de idade em sua cidade natal Porto Alegre, Elis gravou 36 discos, vendeu quatro milhões de cópias e viajou em turnê por todo o Brasil, além de Estados Unidos, Europa e Japão. Seu ecleticismo e sua exigência musical fez com que se tornasse um sucesso não somente na MPB, mas também no JAZZ, BOSSA NOVA, ROCK e SAMBA. Cantava Belchior, Milton Nascimento, Aldir Blanc, João Bosco, Ivan Lins e fez dueto com Jair Rodrigues, Tom Jobim, entre outros...
A nossa eterna Pimentinha já era um sucesso desde que começou a cantar. Aos onze anos já se ouvia a sua voz no programa “No Clube do Guri”, na "Rádio Farroupilha" do Rio Grande do Sul; aos quinze foi contratada pela “Rádio Gaúcha” e foi eleita a “Melhor Cantora do Rádio”. Aos dezesseis anos decidiu sair da sua terra natal e trilhar novos rumos, mudando-se para o Rio de Janeiro e lançando o seu primeiro álbum: “Viva a Brotolândia”; daí por diante seu sucesso só aumentou.
Dividindo-se entre Rio e São Paulo, nossa estrela gaúcha foi contratada pela "TV Rio" e começou a se apresentar no programa “Noite de Gala”, onde começou a parceria com o diretor Miele e o produtor musical Ronaldo Bôscoli, com quem se casou e teve o seu primeiro filho.
No ano de 1964, início da ditadura no Brasil, Elis se muda definitivamente para São Paulo e no ano seguinte faz a sua belíssima estreia no "Festival de Música" da Record com a música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, onde recebeu o prêmio “Berimbau de Ouro” e também o “Troféu Roquette Pinto”, sendo neste mesmo ano eleita a melhor cantora do Brasil.
Junto com Jair Rodrigues, Elis Regina apresentou o programa “O Fino da Bossa”, na Record, e também gravou o disco “Dois na Bossa”, iniciando assim entre eles uma amizade e uma parceria não somente na música mas igualmente na vida, tornando-os inseparáveis.
Essa mulher, dona de um talento extraordinário, bem à frente do seu tempo, não se calou diante da Ditadura Militar. Brigava por seus ideais, deu apoio ao movimento negro e fundou a ASSIM (Associação de Intérpretes e Músicos), na qual lutou em prol dos direitos trabalhistas de intérpretes e músicos que eram obrigados a abrir mão de seus direitos autorais para as gravadoras. Ela sofreu perseguições dos militares e foi muito criticada pela classe conservadora, que via com maus olhares uma mulher que não se calava diante das injustiças e tinha coragem de expor seu pensamento e posição publicamente.
Um exemplo disso, foi a vez em que fez um escândalo na porta de uma delegacia, após prenderem a cantora Rita Lee por estar portando maconha, mas que na época estava grávida. Elis discutiu com os policiais e conseguiu a liberdade da Rita Lee, através de um gesto incrível de empatia e sororidade. Até esse dia, as duas nunca tinham sequer conversado direito e tornaram-se grandes amigas; inclusive, o nome da cantora Maria Rita, filha caçula de Elis, foi em homenagem a Rita Lee.
Mas embora fosse contra o governo militar, Elis se sentiu obrigada a se apresentar nas Olimpíadas do Exército por medo de retaliação, das ameaças que sofria o tempo todo. Sendo, inclusive, vigiada e seguida por diversas vezes quando levava o seu filho mais velho, João Marcelo, na escola; fato este relatado pelo próprio João, em seu livro “Elis e eu”.
Nesta biografia, o primogênito da cantora narra todo o período em que passou ao lado da mãe, com a intenção de imortalizar a sua história, confidenciando fatos que até então nunca tinham sido revelados. Como por exemplo, as vezes em que Elis o botava pra dormir do lado de fora da casa após ter aprontado alguma travessura, além de o ter colocado para estudar em uma escola pública, afim de fazê-lo conhecer a realidade do país e valorizar melhor o que tem. Vale MUITO a pena a leitura desse livro!
Voltando à apresentação musical da Elis para os militares... Essa teve uma repercussão péssima não somente para o público que a admirava, mas também para com seus amigos que não aceitaram muito bem a sua suposta “união” com o regime militar. Mas a estrela conseguiu dar a volta por cima e mostrar o lado que ela realmente estava, ao gravar canções que são hinos da resistência! Dessas canções, temos a composta por Aldir Blanc e João Bosco, “O bêbado e a Equilibrista” e a escrita por Belchior, “Como nossos pais”, além de diversas outras músicas que, na voz da Elis Regina, foram imortalizadas e mostraram ao mundo toda a repressão da ditadura e a dor daqueles que resistiam.
Infelizmente essa grande artista, que teve seu início de carreira em 1956, nos deixou precocemente aos 36 anos, em 19 de janeiro no ano de 1982. Após misturar cocaína com uma quantidade excessiva de álcool, foi encontrada desacordada em seu quarto pelo namorado Samuel Mac Dowell e chegou morta ao hospital. Elis deixou três filhos: João Marcelo, Pedro e Maria Rita; e tornou-se um mito, uma inspiração para os novos artistas e nos deixou como herança uma história incrível de sucesso que jamais será esquecida.
Texto: Priscilla Dutra
Edição: Nanda Catarcione
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