Uma forma diferente de amar em "Drão".
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Olá galera!
Hoje o Quarta Musical traz para vocês a análise de "Drão", dita como uma das mais belas canções da música popular brasileira.
Ela foi composta em 1981 e lançada em 1982 pelo grande compositor e cantor Gilberto Gil. A letra foi escrita em homenagem à sua ex-esposa, Sandra Gadelha, após o fim da união de 17 anos do casal.
Drão ou Sandrão, é um apelido carinhoso dado por Maria Bethânia à amiga Sandra, que é irmã de Dedé Gadelha, ex-esposa de Caetano Veloso.
Podemos dizer que Drão é uma autobiografia de Gil, e ao cantá-la, ele consegue transmitir muita emoção, ao falar de um tema tão intenso, como é a separação.
De um modo tão único e especial, a letra traz um pedido de perdão, repleto de muito carinho, ternura e respeito. Gil confessou em um depoimento no livro “Todas as Letras”, uma coletânea organizada por Carlos Rennó, que foi muito difícil para ele escrever a letra e conseguir expor todo o sentimento e tantas coisas que haviam dentro de si, em uma só canção. Não foi nada fácil para o artista falar sobre o rompimento de um casamento tão longo e significativo para os dois. E em seguida, ele relata o momento da transformação de um amor que será eterno.
Antes de analisarmos a letra, gostaria de deixar aqui o depoimento de Sandra Gadelha sobre a música, em uma entrevista dada à Revista Marie Claire, no ano de 2000:
"Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.
Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.
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Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de se transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.
A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."
Vamos à letra:
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Drão!
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar em algum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Gil já começa canção com a palavra "Drão", como se a tivesse chamando para prestar atenção no que ele iria dizer. A metáfora do amor com uma semente, significa que houve uma transformação, com o passar dos anos, da ligação amorosa existente entre eles. O amor antigo precisou morrer para que pudesse renascer de uma nova maneira, através de um novo sentimento.
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela noite escura
Viveram tantas coisas juntos. Dormiram por anos em uma cama de tatame e adoravam fazer isso, a "caminha dura". Momentos como esses, que jamais iriam morrer em suas lembranças. A caminhada juntos foi difícil, enfrentaram momentos tensos, períodos de muita escuridão, principalmente durante a ditadura militar, pois tiveram que ir embora do próprio país. Gil deixa isso registrado, pra fazê-la lembrar sempre que, um amor como esse, não acaba com uma separação.
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Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Como forma de confortar o seu coração, ele pede pra ela não pensar em rompimento, para que não haja sofrimentos. Pois o verdadeiro amor, está aberto a transformações, e assim, se manterá sólido como um monolito (uma pedra de enormes dimensões). Deve-se lembrar também, que dessa relação, houveram frutos, que são seus três filhos (Pedro Gadelha, Preta Gil e Maria Gadelha). Sem dúvidas, essa é uma arquitetura construída, que será eterna.
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Novamente, ele menciona a dura caminhada que enfrentaram juntos, a cama de tatame em que passavam as noites e tudo de maravilhoso que viveram até aquele momento. Ninguém de fato poderá fazer um amor desses morrer!
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Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Nesse momento, ele a faz lembrar que os filhos estão saudáveis e a culpa da separação é toda e somente dele. Só Deus sabe o quanto ele errou e, por isso, não merece o seu perdão. E muito menos a sua compreensão. Gil pede apenas que ela tenha compaixão por ele.
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
Drão!
Drão!
O grão tem que morrer para se tornar trigo e esse morre para se transformar em pão. Ou seja, o amor é como um grão que não acaba, apenas se modifica e renasce.
Que a sensibilidade do mestre Gilberto Gil permaneça servindo de exemplo para muitos casais que veem o divórcio como um ato de desamor. E que essa linda poesia os faça deixar ressuscitar em seus corações uma nova maneira de amar.
Site Letras.com |
Essa canção foi gravada também pelo Djavan, Milton Nascimento e por Caetano Veloso, mas não deixem de apreciar a emoção expressa na linda voz de Gilberto Gil! Seguem abaixo os vídeos de todas as versões, deliciem-se!
Amei! 🥰🥰🥰🥰
ResponderExcluirAaahhh sua linda! Muito feliz que você gostou do nosso texto! *-*
ExcluirQue bom que você gostou Rafa!!!Fico feliz demais. Obrigada ❤️❤️❤️
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